quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Entenda a crise no Egito


Inspirada na Tunísia, população vai às ruas exigir o fim do regime de Hosni Mubarak
O presidente do Egito, Hosni Mubarak, anunciou nesta sexta-feira (28) que formaria ainda neste sábado (29) um novo gabinete de ministros, após ter demitidos todos eles, incluindo o primeiro-ministro egípcio, Ahmad Fuad Mohieddin, ontem. A medida é uma tentativa de encerrar a crise em que o país se encontra desde terça-feira (25), quando manifestantes e policiais entraram em choque, em confrontos que se tornam cada vez mais violentos.
Mubarak, como presidente, é o chefe de Estado do Egito, enquanto Mohieddin é o chefe de governo. O primeiro-ministro e o gabinete de ministros são indicados pelo presidente, que pode desfazer o gabinete e convocar novos membros.
Os protestos, que se espalham pelo país, têm o objetivo de forçar a saída de Mubarak - no poder desde 1981.
O governo decretou toque de recolher no país ontem e colocou o Exército nas ruas da capital, Cairo, para garantir a ordem nas ruas. O toque já foi ampliado hoje, e agora vai das 16h (11h em Brasília) às 8h (3h em Brasília). As Forças Armadas já pediram à população egípcia que evite participar de manifestações públicas e respeite o toque de recolher.
Em um comunicado, o ministério argumenta que o pedido se justifica pelas “ações de sabotagem e violência” que estão sendo registradas nas últimas horas no país, e adverte que os infratores “enfrentarão sanções judiciais”.
O número de mortos no país, em meio aos protestos, já é de ao menos 30 pessoas, segundo fontes médicas. Os números são desencontrados, no entanto: o Ministério da Saúde, por exemplo, fala em 38 mortos; a polícia, em 35; e outras fontes variam de 27 a até 74 – este último dado é de uma contagem feita pela agência de notícias Reuters.
A rede britânica BBC disse que as manifestações acontecem em ao menos nove cidades do país.
Medida insuficiente
O grupo Irmandade Muçulmana já declarou que a destituição dos ministros é “apenas um passo” antes de aceitar as reivindicações da oposição e do povo. O porta-voz do grupo, Walid Shalabi, disse à agência de notícias Efe que espera um “governo que tenha interesse em lançar as liberdades públicas, que resolva o problema do desemprego e que não trabalhe em benefício de um só grupo”.
O líder opositor e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, afirmou, por sua vez, em entrevista à rede France 24, que Mubarak “deve ir embora”.
- O presidente Mubarak não entendeu a mensagem do povo egípcio (...) Seu discurso foi totalmente decepcionante. Os protestos irão continuar com ainda mais intensidade até que o regime de Mubarak caia.
Ele voltou de Viena (capital da Áustria) e foi ao Cairo para participar da mobilização popular, mas foi detido. Segundo a Jazeera, ElBaradei estava ontem  em uma mesquita, e quando tentou sair dela foi impedido pela polícia. O diplomata egípcio é pró-Ocidente, tem apoio das classes mais altas e intelectualizadas e já anunciou sua disposição em assumir um eventual governo provisório, caso Mubarak seja derrubado. Esse é o grupo que engrossa as manifestações.
Já a Irmandade Muçulmana é um grupo fundamentalista islâmico, ligado ao Hamas palestino, e foi posto na clandestinidade por Mubarak, sob pressão do Ocidente. Eles defendem a adoção de leis religiosas no Egito, baseadas na sharia (código islâmico, baseado no Corão).
Segurança não pode conter a revolução, diz político
Mostapha al Fekki, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia, também membro do Partido Nacional Democrata no poder, pediu oontem a Mubarak que faça "reformas sem precedentes" para evitar uma revolução no Egito.
- Em nenhuma parte do mundo a segurança é capaz de pôr fim à revolução. O presidente é a única pessoa que pode pôr fim a esses acontecimentos.
Mubarak nunca, em sua administração, enfrentou tamanha onda de protestos. Os egípcios pedem sua saída e a implantação de uma democracia real, sem eleições fraudulentas, uma acusação que pesa sobre o governante egípcio.
Em novembro deste ano, o país deve passar por eleições presidenciais e Mubarak é um possível candidato. Outro nome cogitado é o de seu filho, Gamal.
Apoio
Em seu apoio, Mubarak já recebeu até o momento a declaração do rei a Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud.
O rei, que está no Marrocos recuperando-se de uma cirurgia na coluna realizada nos Estados Unidos, condenou aqueles que "bagunçam" a segurança e a estabilidade do Egito.
Abdullah telefonou na manhã de hoje para Mubarak. Durante a conversa, o rei denunciou "intrusos" que estariam "bagunçando a segurança e a estabilidade do Egito (...) em nome da liberdade de expressão".
Egito é aliado ocidental em região turbulenta
Mesmo sendo um regime autoritário, o Egito é um dos principais aliados dos Estados Unidos e da Europa no mundo árabe. O principal temor do Ocidente é que a Irmandade Muçulmana possa assumir o governo do país.
Além da Jordânia, o Egito é o único país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Qualquer mudança brusca no regime de Mubarak pode tornar mais tensa a política já inflamada da região.

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