sexta-feira, 27 de abril de 2012

PINHEIRINHO: Ações apuram danos coletivos, atos de exceção e morte


Ações apuram danos coletivos, atos de exceção e morte no Pinheirinho
Nove mil moradores foram expulsos e 30 quarteirões ficaram destruídos
pela fúria de 2 mil agentes públicos (Foto: Danilo Ramos)

São José dos Campos – O caso do Pinheirinho, em São José dos Campos, teve repercussão mundial pela violência de policiais militares e guardas civis metropolitanos na reintegração de posse do dia 22 de janeiro deste ano. Aproximadamente 9 mil moradores foram expulsos e 30 quarteirões daquilo que já havia se tornado um bairro ficaram destruídos pela fúria de 2 mil agentes públicos de Estado e prefeitura.

No entanto, os problemas não se restringem à truculência policial. Foram diversos os atropelos às normas jurídicas nacionais e internacionais, o que deixa muitas questões a serem tratadas, como a responsabilização de todos os envolvidos na barbárie.    
Na última matéria da série especial para a Rede Brasil Atual, o defensor público de São José dos Campos Jairo Salvador fala das ações para condenar os responsáveis, da investigação pela morte de um morador, avalia que o comandante da operação deveria ter recebido voz  de prisão e que um juiz de exceção comandou a desocupação, além de descrever a gravidade do impedimento ao trabalho da Defensoria.            
Como estão as ações da Defensoria no caso do Pinheirinho? 
Temos instruídas 580 ações individuais de famílias que tiveram prejuízos materiais e morais. Estamos preparando uma ação civil pública pelos danos urbanísticos causados à cidade,  contra o poder público, e mais uma para questionar a desocupação. Esses três tipos serão encaminhados à Justiça Estadual.  Outra vertente são as ações internacionais. 
Sobre a ação por dano urbanístico, como se dará exatamente? 
É o Núcleo de Habitação e Urbanismo da Defensoria que está instruindo. São quatro defensores trabalhando numa ação que mostra que a cidade foi afetada, as pessoas foram diretamente prejudicadas. Também tem o destino delas, pra onde foram os ex-moradores? O tamanho do dano urbanístico quando milhares de pessoas ficam sem moradia é enorme. Pedimos indenização e condenação dos responsáveis, estado e prefeitura. 
E quais os dados encontrados para basear a ação? 
Temos alguns, tais como o gasto com transporte, com as pulseiras que identificavam os ex-moradores nos alojamentos, a dinâmica da desocupação, entre outros. Mas ainda necessitamos de alguns dados do estado. Essas informações já foram requisitadas. Estamos trabalhando para finalizar o trabalho de instrução.
E as ações internacionais?  
Na semana passada, houve uma visita da Raquel Rolnik (relatora especial  da ONU para questão de Habitação e Urbanismo no Brasil) a São José. Podemos entrar na Corte Interamericana da OEA (Organização dos Estados Americanos) ou no Tribunal Penal Internacional, talvez nos dois, com ações pedindo a condenação das partes que violaram direitos. Estamos programando uma atividade para outubro, mas ainda não podemos divulgar.      
Há algo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não?  
Foi uma decisão tomada por um grupo de juristas, liderados pelo Fabio Konder Comparato. Formularam uma denúncia ao CNJ sobre o comportamento dos magistrados envolvidos no evento.
E o senhor, como avalia o comportamento da Justiça? 
Houve muitos equívocos, decisões estranhas, isso já é sabido. O que ficou muito marcado foi a posição da juíza Márcia Loureiro, que manteve a decisão, mas não cumpriu ritos processuais básicos, isso foi muito repercutido, mas não foi o mais grave. 
O que foi mais grave? 
Algumas coisas foram. Havia um juiz federal que estava com a possibilidade de mudar o rumo das coisas, já que a Justiça Federal havia expedido liminar contra a reintegração. Ele foi muito cauteloso. Deveria ter mandado prender o comandante da Polícia  Militar na operação (coronel Messias Mello), poderia ter enviado policiais federais para dar voz de prisão a ele e não o fez. Não prender o comandante deu mais força para a situação ocorrer do jeito que ocorreu.    
E a atuação do juiz estadual Rodrigo Capez, que estava presente na operação?
Ele estava representando o Tribunal de Justiça, mas sem nenhum ato publicado indicando auxílio à juíza natural do caso (Márcia Loureiro). Então, é um juiz de exceção. Eu nunca vi isso acontecer. É o tempo da ditadura, você escolhe o caso e manda o juiz. É um arbítrio contra qualquer norma do direito no mundo. 
Sobre os feridos na operação, o sr. Ivo Teles morreu (em Ilhéus, Bahia). Como a Defensoria age nesse caso?                   
Na esfera cível será proposta ação indenizatória em face do Estado. Na órbita criminal, conseguimos testemunhas presenciais que o viram ser espancado por policiais, relatando que sofreu vários golpes na cabeça. A filha do senhor Ivo mora em Ilhéus e está colaborando no fornecimento de informações. Estamos em contato com a Defensoria Pública da Bahia para que possamos esclarecer o caso e instruir as medidas, já que ela mora lá.
É possível afirmar o Estado como responsável pelo assassinato dele? 
A partir da análise da documentação que está nas mãos da filha dele, prontuário médico e depoimento de testemunhas, havendo confirmação do nexo causal, direto ou indireto, o estado será responsabilizado pela morte. Ainda é cedo para sabermos se a causa da morte foi o espancamento ou se o espancamento causou ou contribuiu de alguma maneira para o AVC e a consequente morte.
De toda maneira, a forma como se realizou a desocupação colocou em periclitação a vida e a saúde de milhares de pessoas de forma absolutamente desnecessária. Não resta dúvida de que o Estado pode ser responsabilizado, pois ao atirar balas de borracha e bombas químicas a esmo, assumiu o risco de provocar reações imprevisíveis em pessoas debilitadas de saúde, sem mencionar que muitos tiveram o acesso aos medicamentos de uso contínuo suspenso por alguns dias, em razão da maneira violenta e insidiosa como foi feita a desocupação. 
Todo esse trabalho da Defensoria sofre com obstáculos? 
Estamos trabalhando. Já sofremos com obstáculos. O mais grave que ocorreu na operação policial do ponto de vista jurídico é que nós (Defensoria e advogados) fomos impedidos de acompanhar o cumprimento da ordem. É outro indício dos tempos de arbítrio, gente que tem o direito constitucional foi impedida de atuar. A Defensoria é isso, pega a miséria da humanidade. É aquela última porta. Depois disso, é a barbárie, justiça com as próprias mãos. Temos a função de auxiliar aquelas pessoas. 
                       

quinta-feira, 26 de abril de 2012

FILHO DE TUCANO, TUCANINHO É...


A poucos meses do fim do mandato, promessas de Kassab ficam no papel

Metas prioritárias da administração do prefeito Gilberto Kassab (PSD) como a construção de três novos hospitais, zerar o déficit de vagas em creches e a construção de 66 quilômetros de corredores de ônibus dificilmente serão cumpridas. A avaliação é do coordenador da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi, após divulgação do relatório de 2011 do Programa de Metas da cidade de São Paulo, chamado de Agenda 2012, na semana passada. “As metas que considerávamos prioritárias e foram utilizadas na campanha eleitoral como promessa de campanha, o que obviamente deve ter contado para ajudar na reeleição (de Kassab), estão muito distantes de ser cumpridas”, disse. Também houve baixo cumprimento de metas de iluminação pública, de drenagem urbana e na implementação de postos para coleta seletiva. (Foto: CC/Paulo Fehlauer/Flickr)

O relatório da prefeitura de São Paulo sobre o desempenho de Kassab até 2011 aponta o cumprimento de 61 (27%) das 223 metas propostas por ele em 2009, no início de seu atual mandato. De acordo com o site que monitora as ações da Agenda 2012, até hoje (24), as metas atingidas chegaram a 73 (32,7%) de cumprimento do programa de governo. Outras 149 estão em andamento e uma não foi iniciada – a meta relativa a investimentos no Rodoanel.

Entre as metas deficitárias citadas pelo coordenador da Nossa São Paulo, o site da Agenda 2012 aponta que apenas quatro dos 1 mil postos de coleta voluntária de materiais recicláveis foram instalados. Em relação à implementação de 66 quilômetros de corredores de ônibus, o local mais avançado, o “binário Santo Amaro”, que deverá ter oito quilômetros, encontra-se na fase de edital de obras. O corredor Varginha, o local mais atrasado, que terá quatro quilômetros, ainda está em fase de definição da região.

O levantamento também demonstra que a construção dos três novos hospitais prometidos está em fase de licitação e ainda não entrou na fase de obras. Dos 16 mil novos pontos de iluminação prometidos, 2.267 foram instalados. Já a meta de atendimento a 100% das crianças cadastradas para vagas em creches, com idade de zero a quatro anos, tem previsão de atendimento a 16.871 crianças este ano, apesar de dados da Secretaria Municipal de Educação em 2011 apontarem mais de 147 mil crianças em fila de espera de vaga.

Inconsistências

Segundo Broinizi, apesar de melhorias no detalhamento do relatório de 2011, há inconsistências nas informações e dificuldade de acompanhamento do real cumprimento das metas. “A meta 117 aponta 100% das secretarias municipais com compras públicas sustentáveis, mas pedimos a comprovação desse item e a prefeitura não forneceu”, descreveu.

Outro problema foi detectado no cumprimento da meta 174 – preparação da cidade para ser sede da copa do mundo de futebol de 2014, dada como cumprida. Entretanto, no detalhamento, o dirigente da Nossa São Paulo detectou que as fases ainda estão em definição. “Há problemas no relatório que precisa ser melhor explicado”, disse.

Embora haja um conselho consultivo da agenda, o acompanhamento é “questionável”, conforme o ativista. “O conselho não tem a legitimidade que gostaríamos que tivesse, passando por um longo processo de escolha, debate na sociedade, para que pudéssemos eleger pessoas representativas e com qualificação técnica para acompanhar as metas”, avaliou. “A sociedade, a imprensa, todos devem ficar atentos e fiscalizar a execução das metas porque elas têm endereço.”

FERNANDO HADDAD - JUSTIÇA SOCIAL E HUMANIZAÇÃO


‘Quero humanizar São Paulo’

Confiança. O ex-ministro acredita que as circunstâncias
 eleitorais o favorecem. Foto: Olga Vlahou
O ex-ministro Fernando Haddad está mais longilíneo. E mais confiante. Acredita que as circunstâncias eleitorais o favorecem, embora, no momento, a realidade pareça bastante madrasta. O PT perdeu um tempo precioso na tentativa de fechar um acordo eleitoral com o prefeito Gilberto Kassab, do PSD, que no fim das contas lançou-se aos braços de seu padrinho José Serra. Agora busca tirar o prejuízo e formar um arco de alianças sólido. Para piorar, o partido foi punido pela Justiça Eleitoral e perdeu o horário gratuito no rádio e na tevê do primeiro semestre, uma chance de ouro para apresentar um candidato desconhecido pelos paulistanos. Na única pesquisa de intenção de votos divulgada, Haddad aparece com 3%, menos da metade do peemedebista Gabriel Chalita e a quilômetros de Serra (e seus 30%). “É uma pesquisa de 60 dias atrás”, incomoda-se o ex-ministro. “Vamos ver a próxima rodada.”
Depois de um longo período mergulhado em articulações internas, Haddad colocou o bloco na rua. No sábado 14, durante um evento em São Bernardo do Campo, apareceu pela primeira vez ao lado de Lula e Marta Suplicy, fiadores de sua campanha (ainda que a senadora continue a não demonstrar empenho e entusiasmo). E tem intensificado os contatos com os eleitores. Seu principal alvo é a qualidade do transporte público. Segundo o petista, São Paulo vive um “apagão” no setor. Ele promete retomar os investimentos em corredores de ônibus, ampliar a parceria no metrô, desde que o governo estadual aceite estabelecer metas de entrega de estações, e melhorar a engenharia de trânsito. Promete ainda acabar com a taxa de inspeção veicular – e mudar o modelo. “Ela não produziu o efeito desejado. A qualidade do ar não melhorou.” Como ele vê São Paulo daqui a quatro anos, caso ganhe a eleição? “Uma cidade mais humana.”
CartaCapital: O senhor é o candidato do Lula e de um partido, o PT, que costuma ter ao menos 30% dos votos na cidade de São Paulo. Ainda assim, está estacionado na casa dos 3% nas pesquisas. O que acontece?
Fernando Haddad: Você se refere a uma pesquisa de 60 dias atrás, a única feita até o presente momento. A sua obsessão – e a de muita gente – por essa pesquisa me parece imprópria. Vamos aguardar uma nova rodada de pesquisas e verificar a evolução do quadro. Estamos no início do trabalho. É minha estreia em eleições e tenho total confiança: ao tomar conhecimento do nosso projeto, a população da cidade vai apoiá-lo naturalmente.
CC: No início das articulações políticas para a sua candidatura, o PT e as forças aliadas parecem ter ignorado a alta probabilidade de o ex-prefeito José Serra participar da disputa. Não foi um erro de estratégia?
FH: Se houve erro não foi da minha parte. Em todas as minhas declarações públicas, sempre deixei claro que, no meu entender, a maior probabilidade era de o Serra participar das eleições. Até porque nos últimos 12 anos ele participou de cinco das seis eleições. O Serra está sem mandato e precisava encontrar uma forma de se reposicionar na vida política.
CC: O senhor elegeu o transporte público como o primeiro mote de sua campanha. O que pretende fazer nessa área?
FH: São Paulo vive um apagão do transporte. É visível. Todas as pesquisas apontam queda na aprovação dos serviços públicos prestados. Há claramente uma falta de investimentos. Em primeiro lugar, os prefeitos posteriores abandonaram os planos em curso durante a gestão da Marta Suplicy. Quando a Marta assumiu, a prefeitura de São Paulo, herdada do Celso Pitta, estava quebrada e tinha um terço do Orçamento atual. Mesmo assim, foram construídos 70 quilômetros de corredores de ônibus. E o que foi feito depois? Outra coisa: a prefeitura colocou dinheiro nas obras do metrô, mas não fez um acordo com o governo estadual para estabelecer metas. Mais dinheiro não tem significado mais estações e linhas. Só tem representado um preço maior por quilômetro construído. Após 18 anos de governo do PSDB no estado, ainda não temos clareza sobre o cronograma de obras do metrô em virtude do constante adiamento daquilo que é prometido.
CC: O senhor manteria os investimentos?
FH: Sim, até me disporia a investir mais no metrô. Mas desde que sejam estabelecidas metas claras. Ainda sobre o transporte: é preciso melhorar a engenharia de trânsito da cidade, completamente abandonada. A CET está sucateada e com baixo contingente para enfrentar os desafios. Nesses anos de inclusão social e maior oferta de crédito, um grande número de cidadãos conseguiu comprar um carro. E a gestão do trânsito não acompanhou essa mudança. Hoje há congestionamento nos bairros no fim de semana, algo que não acontecia. Não há planejamento, não há engenharia, não há duplicação de vias. Para piorar, as panes dos trens da CPTM e do metrô são recorrentes. No caso do metrô, acumulam-se problemas. Houve o horrível acidente da cratera, a acusação de fraudes na licitação, gestores afastados por denúncias. Tudo isso somado à queda nos investimentos em manutenção. Isso é ou não é um apagão?
CC: A CPTM e o metrô não são da alçada do prefeito.
FH: Mas e o dinheiro aplicado pela prefeitura, qual é a contrapartida? No mundo moderno, a administração pública se pauta por metas. Tive o privilégio de inaugurar no Ministério da Educação um plano de desenvolvimento com metas quantitativas e qualitativas. Todas cumpridas até o momento.
CC: No ponto em que estamos, não seria preciso tomar medidas mais drásticas? Ampliar o rodízio, por exemplo?
FH: Não são só os brasileiros que compram carro. Nas nações desenvolvidas, o indivíduo tem automóvel, mas usa de maneira parcimoniosa, pois a cidade, o Estado, é capaz de oferecer uma opção de boa qualidade. Políticas restritivas de uso do carro só são implantadas após a oferta de um bom sistema de transporte público. Ampliar as restrições neste momento em São Paulo representaria empurrar mais gente para um sistema saturado por falta de investimentos estaduais e municipais. O que pretendo fazer é melhorar a gestão do trânsito e, simultaneamente, aumentar os investimentos em transporte público. Com metas, transparência, de forma que a sociedade possa acompanhar e fiscalizar.
CC: Como ex-ministro da Educação, quais são seus planos para melhorar o ensino público na cidade?
FH: São Paulo é o estado mais rico da Federação. A renda per capita da cidade é superior àquela da Argentina, do Chile, do Uruguai, do México. Apesar desse dado, o sistema educacional paulista está aquém do de todos esses países. Não faz sentido. A cidade pode se tornar uma referência, mas é preciso investir da creche à pós-graduação. É preciso ter mais vagas em universidades públicas, mais escolas técnicas. O governo federal tem recursos disponíveis. Também necessitamos de mais creches e pré-escolas. E existe um programa federal com dinheiro destinado a São Paulo que a cidade ainda não foi capaz de usar. É questão de disposição para fechar as parcerias, os convênios. Outro ponto: vamos implantar a educação de tempo integral. Vamos estabelecer metas para atingir em quatro anos um determinado porcentual de estudantes em dois turnos.
CC: Como o senhor imagina São Paulo no final de sua gestão, caso ganhe as eleições?
FH: Quero fazer de São Paulo uma cidade mais humana. Uma cidade promove o encontro das pessoas. Ela tem de ser convidativa. O governo Lula melhorou a vida dos brasileiros da porta para dentro. Os brasileiros, e os paulistanos em particular, tiveram acesso a bens e serviços antes proibidos à maioria. O prefeito tinha a responsabilidade de cuidar da porta para fora. Houve um aumento sensacional da arrecadação. O Orçamento é três vezes maior do que há oito anos. O prefeito Gilberto Kassab possui cerca de 5 bilhões de reais para investimentos e não consegue aplicar os recursos. Quando a vida melhora da porta para dentro e não melhora da porta para fora é sinal de que a cidade não cumpre sua função de aproximar os cidadãos. E isso se faz melhorando a iluminação, a mobilidade, a educação, os serviços públicos.
CC: Como a prefeitura pode atuar para deixar a cidade menos violenta?
FH: A segurança é uma atribuição do governo estadual, mas a prefeitura pode tomar algumas providências. Uma cidade limpa, iluminada, com calçamento adequado, muro nos terrenos vazios favorece a segurança. Até a melhora do trânsito provoca efeitos positivos. Os arrastões pelas avenidas acontecem por causa dos congestionamentos. Os motoristas, parados, tornam-se presas fáceis dos ladrões. E há a Guarda Civil Metropolitana, desprestigiada na atual gestão. Podemos ter uma combinação de esforços da prefeitura e do governo do estado.
CC: Como resolver o problema da Cracolândia? O senhor é a favor da internação compulsória dos viciados?
FH: Fui um dos primeiros a defender a necessidade de uma política de ocupação da Cracolândia, com força policial, por causa da presença de traficantes e crianças. Mas supunha que a ocupação seria feita de maneira conjugada com a oferta de assistência social e de saúde. Não com o simples intuito de espalhar os viciados pela cidade, como ocorreu. Entendo que a internação compulsória sem a participação do Poder Judiciário é muito temerária. Podemos abrir espaço para práticas das quais vamos nos arrepender no futuro. Ela tem de ser usada com parcimônia, quando se tratar de riscos à vida das pessoas.
CC: O próximo prefeito administrará a cidade durante a Copa do Mundo, um evento fundamental para imagem do Brasil no exterior. Estamos preparados?
FH: Temos todas as condições para nos preparar. A prefeitura tem feito pouco…
CC: O que falta?
FH: Coisas básicas. Falta um plano de sinalização para estrangeiros, por exemplo. Vamos precisar de quem fale uma segunda língua para orientar os turistas. E isso precisa ser planejado já. Faltam praticamente dois anos para o Mundial. Não sabemos se temos estrutura para receber bem a todos os que virão, para que eles voltem à cidade e ao Brasil. Certamente um dos grandes legados da Copa será transformar o País em um lugar mais atrativo para os turistas. Se eles não foram bem tratados, levarão uma imagem deformada dos brasileiros. Não vejo um esforço da prefeitura para preparar a cidade.
CC: Como tornar São Paulo uma cidade ambientalmente mais sustentável?
FH: Existem dois aspectos fundamentais. Avançar na coleta seletiva de lixo é um deles. Estamos estagnados nessa área. Há tecnologias avançadas e experiências internacionais bem-sucedidas e fáceis de ser usadas e reproduzidas. O Brasil aprovou um novo marco regulatório do manejo dos resíduos sólidos. Todos os municípios têm prazo para se adaptar às novas regras. O tempo está correndo.
CC: A prefeita Marta Suplicy ficou marcada pela criação de um imposto destinado a investir na coleta seletiva. Era chamada de “martaxa”. Dá para investir em coleta seletiva sem criar um novo imposto?
FH: Na verdade, o Serra e o Kassab substituíram uma taxa por outra, de pior qualidade, e não fizeram nada para melhorar a coleta de lixo. Mas não dá para ressuscitar taxas ou impostos no Brasil. Veja o caso da CPMF, criada pelo Fernando Henrique Cardoso. O Congresso a extinguiu e assim ficou. Vou além. Pretendo acabar com a taxa de inspeção veicular, pois ela não produziu os efeitos desejados do ponto de vista ambiental.
CC: E como manter a inspeção?
FH: Nos moldes do que se faz no resto do mundo, principalmente nos países desenvolvidos. Não há sentido em fazer inspeção em veículos recém-saídos das concessionárias e ainda dentro do prazo de garantia das fábricas. Se está na garantia, a regulagem do motor para a emissão de poluentes tem de estar contemplada. Além do mais, o paulistano paga a maior alíquota de IPVA do Brasil. Metade dessa arrecadação é repassada ao município. A outra metade é do estado. Vamos atingir 2 bilhões de reais em arrecadação, dez vezes mais do que deveria custar a inspeção veicular de toda a frota. Essa taxa é contraproducente. Por causa dela, boa parte da frota de automóveis da cidade não está licenciada. Outra parte está licenciada fora do município e do estado, pois os motoristas buscam uma maneira de pagar menos impostos. Já a qualidade do ar não melhorou. Diria até que piorou.
Sergio Lirio
FONTE:http://www.cartacapital.com.br/politica/quero-humanizar-sao-paulo/

domingo, 22 de abril de 2012

DILMA VOLTA A BATER RECORDE DE APROVAÇÃO E A SUPERAR TODOS OS ANTECESSORES


São Paulo – A avaliação do governo de Dilma Rousseff voltou a crescer, bateu mais um recorde e superou todos os antecessores eleitos democraticamente. Pesquisa Datafolha divulgada hoje (22) mostra que 59% dos entrevistados veem a presidenta como ótima ou boa, crescimento de onze pontos em relação ao levantamento anterior, feito em agosto.
Trata-se de um nível superior ao de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro ano dos dois mandatos – 42% em 2003 e 50% em 2007 – e ao de Fernando Henrique Cardoso – 41% em 1995 e 16% em 1999. Dilma supera ainda a aprovação dos inícios de mandato de Fernando Collor (23%) e de Itamar Franco (12%). Em uma escala de zero a dez, a média de avaliação do governo fica em 7,2, crescimento de meio ponto frente a agosto do ano passado.
O levantamento mostra ainda que os que consideram o governo como ruim ou péssimo caíram de 11% para 6%, e a leitura de uma gestão regular foi de 39% para 33%. Os que avaliam o governo como ótimo ou bom são 56% entre os homens, um crescimento de dez pontos, e 62% entre as mulheres, variação positiva de 13 pontos. Por idade, as taxas menos elevadas de aprovação se dão nas faixas entre 16 e 24 anos e entre 45 e 59 anos, com 56% e 57%, respectivamente.
Quanto à escolaridade, 61% dos que cursaram ensino fundamental aprovam a atual gestão, contra 57% dos que fizeram até o ensino médio e 59% entre os que concluíram o ensino superior. A diferença de avaliação por anos de estudo caiu bastante: era de oito pontos em agosto e agora fica em quatro pontos.
Quando se leva em conta a renda familiar, a diferença de aprovação torna a crescer, de 59% entre os que recebem até cinco salários mínimos a 53% entre quem tem um rendimento superior a 10 mínimos. Na faixa de cinco a dez salários, porém, Dilma registrou a maior variação positiva, de 16 pontos, e tem agora o aval de 61% dos entrevistados.
Por região, o maior crescimento se deu no Norte e no Centro-oeste. Em agosto, 45% aprovavam o governo, contra 63% agora. No Nordeste a escalada foi de 13 pontos, chegando a 62%. Sul, com 58% de ótimo e bom, e Sudeste, com 56%, vêm a seguir. 
Todas as questões sobre características pessoais da presidenta também apresentaram evolução. 72% afirmam que Dilma é uma pessoa decidida, 10 pontos a mais que no último levantamento. 80% a veem como muito inteligente, uma subida de quatro pontos. 70% acreditam se tratar de alguém sincero – caiu em sete pontos o percentual de quem a avalia como falsa, agora em 15%. Houve uma queda também quanto à pergunta sobre se Dilma é autoritária – 39% acreditam que sim, contra 52% que a enxergam como democrática.
O Datafolha entrevistou 2.575 pessoas em 159 municípios. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

sábado, 7 de abril de 2012

RESQUÍCIOS DA DITADURA, 48 ANOS APÓS O GOLPE MILITAR


Reportagens especiais mostram que o país ainda precisa superar o legado deixado pelo regime militar em setores como educação, economia e política e que a extrema direita ainda conta com grande representação na sociedade brasileira.

Passados 48 anos do golpe contra João Goulart, resta algo de ditadura
Educação elitizada, saúde privatizada, projetos de cultura abortados: o Brasil de 2012 não se livrou das heranças do golpe contra João Goulart em 1º de abril de 1964

Desigualdade no sistema educacional brasileiro é herança do período militar
Esvaziamento do ensino superior público divide opiniões, mas violência repressiva, falta de oportunidades e despolitização da sociedade surgem como símbolos do modelo deixado pela ditadura militar

Na saúde, ditadura começou abertura ao setor privado
Transferência de recursos públicos para empresas privadas deu início à montagem de um sistema que ainda hoje dificulta a prestação do atendimento gratuito

Para Chauí, ditadura iniciou devastação física e pedagógica da escola pública


Na USP, cinco décadas após o golpe, a ditadura volta a dar as caras
Respaldado por um estatuto que completa 40 anos, o reitor João Grandino Rodas administra a mais importante universidade brasileira de maneira autoritária e truculenta

Duddu Barreto Leite: "Se abandonei o teatro, foi por perseguição política"


Militares pró-64 intensificam ofensiva ideológica iniciada no governo Lula


Memórias de abril e o golpe da informação
Historiador da CIA revela como ideias e recursos dos EUA seduziram a imprensa brasileira nos anos 1950 e semearam o golpe. Hoje, ainda, não se pode piscar diante do apetite voraz da direita – a colonizadora e a colonizada

Um quebra-cabeça para reconstruir a história das ditaduras
Encontro entre hoje e domingo em Porto Alegre vai analisar as várias dimensões e entraves para reconstruir a história das ditaduras, da luta para derrubá-las e dos esforços para identificar e punir violadores dos direitos humanos

Tuna Dwek: 'Tem muita gente que está morta há muito tempo, porque foi calada pela ditadura'


Sérgio Ricardo: 'A ditadura deixou o medo de transformação como herança'


Especial 1964: resquícios da ditadura, 48 anos após o golpe militar
Reportagens especiais mostram que o país ainda precisa superar o legado deixado pelo regime militar em setores como educação, economia e política e que a extrema direita ainda conta com grande representação na sociedade brasileira

Passados 48 anos do golpe contra João Goulart, resta algo de ditadura
Educação elitizada, saúde privatizada, projetos de cultura abortados: o Brasil de 2012 não se livrou das heranças do golpe contra João Goulart em 1º de abril de 1964

Após cusparada 'anti-64', manifestantes são alvos de ameaças de morte na internet
“Os caras têm armas. Divulgaram nossa rotina, é perfeitamente possível a gente esbarrar com algum deles. Estamos preocupados porque sabemos do que são capazes de fazer”, diz ativista

FONTE: 
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/especiais/especial-1964-resquicios-da-ditadura-48-anos-apos-o-golpe-militar